《ALÉM DA CORTINA [português]》A LONGA GUERRA
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Sondo o tempo além das montanhas e só nuvens negras eu vejo rodeando e sufocando o mundo. Mas, eu sei que o sol está lá em cima, roendo lentamente a escuridão.
Sênior sentiu seu peito ser oprimido levemente, enquanto revia milhões e milhões de anos de Gaia se esticarem pelo fio do tempo, sangrando e remoendo. Avanços e recuos, dores e sofrimentos em todo o curso, em muitos momentos sugerindo a total destruição, e em outros uma paz que seria eterna. Como poderia descrever a forma como vira e sentira tudo isso?, ficou se perguntando, os olhos passando por todos os que estavam ali.
- A estória de como fomos destacados é única para cada um de nós, tal como as reações que tivemos e como encaramos o vazio e a experiência - começou. - Acho que posso dizer com certeza que as coisas começaram a ter um toque diferente quando a escuridão foi percebida como uma nova forma de experiência. Todos bem sabem que no início as forças da luz sofreram pesadas baixas, tanto em guerreiros quanto em recursos e sistemas. Foi bem lentamente que ela foi se recuperando, empurrando, destroçando paulatinamente o poder escuro.
Sênior se deu uma pequena pausa, examinando disfarçadamente as faces que sondavam a sua.
> Assim era porque a luz teve que abrir mão de convicções, até entender que o amor não precisava abandonar a compaixão para existir, que podia ser forte enquanto se defendia e atacava. Com imensa lentidão os escuros foram sendo empurrados, cercados e aprisionados. Muitos deles foram levados para dentro dos sóis onde foram resetados, visto que não mostravam forças para, ao longo do tempo, se recuperarem da queda. Já aqueles que mostravam possibilidade de se erguerem das trevas foram lançados para dentro de muitos planetas prisões, que foram separados e preparados para serem planetas de expiação.
> Após o impacto inicial em que nos encontramos com os escuros tivemos que aprender a fazer-lhes frente, a nos defendermos e a defender a outrem. Nos tornamos guerreiros, e éramos milhões de milhões, que em número fomos diminuindo com o tempo. Mas, por mais que batalhássemos, que tentássemos ensinar o que era a luz, tudo isso se parecia um nada, porque eles não queriam aprender.
> Então nos tornamos tardischs, e ao ver que uma forma mais endurecida de tratamento só criava mais resistência, nos tornamos apenas guerreiros, apenas ganedrais, mantendo nossos olhos atentos a Aden, que se tornou Urântia, que veio a ser Gaia.
> Mas, por mais que os tentássemos mantê-los afastados de Gaia, parecia que havia algo ali que os puxava, com uma força irresistível. Foi com pesar que os vimos serem encurralados em Satânia, e em Gaia, ao final, onde fizeram seu maior bastião, fortificando-a de tal forma que pudessem chantagear a federação. Se insistissem na libertação de Gaia, a joia tão adorada e mimada seria destruída, com todas as preciosidades que ali vicejava. E a federação sabia que a morte de muitos deles mesmos em nada os comoveria.
> Sabem, podemos batalhar por eons se fim, mas não há como obrigar uma mônada ou um fractal a não experimentar o que deseja. Mas ela pode ser seduzida, ela pode ser orientada, ensinada. E essa é a única forma de transformar a escuridão, tal como ela procede com a luz...
Sênior virou-se totalmente de frente para os anciões, vendo com preocupação uma acusação antiga pendendo da grande maioria dos olhares.
Controlando o peso depositado em seu peito suspirou profundamente.
> Vocês sentiram a escuridão e se levantaram contra ela, também. Vejo um peso em na maioria de seus olhares, e bem sei de onde vem. Acharam alguma forma mais efetiva de lidar com ela? – perguntou com suavidade.
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- Se vê o peso em nosso olhar, meu irmão, saiba que não é por fruto de algum julgamento, não como pensam. Ah, mas vocês sempre foram considerados rebeldes, e de renegados foram chamados, se lembram? Parece que se mostravam assim desde o início, não é mesmo?
- Títulos que muitos insistem que usemos – replicou, olhando confuso para Derfla. – Eu creio que já tivemos essa conversa antes, quando fomos renegados por sermos tardischs, assumindo riscos que o conselho de anciões não desejava para si - acusou.
- Meus queridos irmãos, vocês continuam pesados – falou o ancião, - pois ainda parecem permeáveis à escuridão.
- A escuridão é pesada e fria, insensível. Lutamos contra ela, sempre lutamos – defendeu-se Uriel.
- Sim... Também batalhamos contra ela. Mas, tivemos o cuidado de não imergirmos nela. Vocês demonstram raiva, e ódio e impaciência quando os atacam; demonstram indiferença e desprezo quando os atingem. E lentamente, sem que percebam, se permitem utilizar métodos que não são da luz. Isso não lhes parece uma roupagem escura?
- Sabíamos do risco – declarou Anaita com tranquilidade.
- Sabemos que sim, e é claro que vemos valor no que fizeram e fazem, e como resistiram e resistem em escuros serem. Mas, não é por nós que estamos aqui, não é por nós que nos preocupamos, pois que assim é pelas consciências. Sabem, amamos vocês e o que representam, e nos doe ver a dor que se abate sobre vocês, nos doe ver as perguntas que se fazem e as respostas que não ouvem e que desejam ouvir se elas lhes fossem sopradas, por julgarem não encontrar em lugar algum. Mas, enganam-se se acreditam que estamos aqui apressados em julgá-los. Ao contrário do que pensam, nós lhes damos muito valor.
Sênior respirou fundo, os olhos tristes pousando sobre Derfla.
- Meus irmãos – começou Derfla tomando a palavra, - eu confesso que estou preocupado. Antes, vocês guerreavam, e só viviam para as batalhas. Via a dor de vocês, mas estavam ali, guerreiros, e isso os mantinha e lhes bastava. Ainda os vejo assim, formidáveis guerreiros, mas não vejo mais que a guerra os move como movia antes. Vocês sofrem, em cada golpe que dão, em cada golpe que recebem, como se não lhes visse o valor que antes viam. Não queremos isso em vocês. Vemos as questões que os torturam e vemos o quanto estão cansados da guerra, o quanto essa loucura sem sentido lhes pesa.
Sênior passou os olhos pelos ganedrais, e em cada um viu o sorriso exposto, como se dissessem que, realmente, já estavam cansados demais.
Sênior baixou o rosto e suspirou demoradamente, e viu o quanto estava cansado de toda aquela loucura. Com força refreou a dor que avermelhava e irritava seus olhos.
Levantou o rosto e se voltou para Derfla.
- Sim, meus amigos, vocês estão certos. Nós estamos muito cansados disso. Vimos que não conseguimos fazer a escuridão se ver como tal para luz poder voltar a ser, que a guerra, a punição, não tem a força para transmutar a escuridão em luz, como pensamos por esse tempo longo demais.
- E??? – Derfla incentivou com extrema suavidade.
- Sussurros correm pelo espaço e entre os planetas, que contam que vocês planejam algo para ajudar Gaia. Por todo esse universo de Nébadon sabemos que está convidando almas nobres, que chamam de sementes das estrelas, para encarnar nela e ajuda-la, porque o sofrimento dela é monumental. Sabemos que Gaia clamou ao UM por ajuda, e que um caminho foi apontado, mas que ele precisa ser preparado. Nós queremos participar disso.
- Gaia, a bela Gaia, a amada Gaia... Ela é uma joia, que foi, por vontade própria, sujeitada à escuridão. Bem sabemos que ela fez isso por compaixão, por amor, para reverter e ser uma esperança para os que se perderam na escuridão, aqui e em todos os universos. Mas, por mais que tentássemos, parecia impossível chegar até ela. Isso, até vocês se concentrarem nela, até vocês a ampararem, até doarem suas energias para ela dessa forma tão profunda e comovente. Vimos que estão quase sempre por lá, sussurrando, incentivando, dando esperanças... Foi em vocês que nós nos inspiramos, meus amigos. Foi vendo vocês que não desistimos dela – falou Derfla, a voz impressa com extremo carinho.
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> Então, aqui estamos nós, desejando ouvir vocês, renegados – murmurou o antigo amorosamente. – O que vocês desejam, meus irmãos?
Uriel, abrindo um sorriso aliviado, deu um longo suspiro, ainda mais ao ver sorrisos que se insinuavam nos rostos, e não só nos rostos dos ganedrais.
- Queremos ajudar essas almas, essas “sementes das estrelas”. Para isso nos oferecemos – falou Zaniel.
O Antigo levantou os olhos para Derfla, a luz se elevando lentamente, satisfeito com o sol que subia além das montanhas.
- Ah, que bom que nossa espera terminou, Derfla – suspirou ele, os olhos alegres e satisfeitos passando por cada um dos ganedrais.
Então o viram, feliz, fechar os olhos, prestando atenção em algo ou alguém fora de suas áreas de atenção.
Sênior fixou os olhos no antigo, que parecia em transe. Em silêncio todos aguardaram.
Por fim, ao cabo de alguns poucos segundos, o antigo abriu os olhos, agora parecendo mais suaves e risonhos.
Então se fixou em Sênior, o rosto exalando uma cumplicidade.
- Ouvi o que disse, meu amigo, e sei o que vai em seus nobres corações. Eu vi as novas linhas do tempo, eu vi a descida dos marcadores do caminho, como vi que esse caminho terá que ser preparado com muita antecedência. E vocês estavam lá, ah, estavam sim – falou para os sorrisos que foram se insinuando em todos. Mas também vi que vocês não irão descer para a experiência, ao menos não todos vocês – declarou agora com ar misterioso, sob o olhar de aprovação dos outros do conselho, para espanto de Derfla e dos ganedrais. - Não todos vocês... – repetiu com carinho.
- Ficamos honrados e... Mas por que nem todos desceremos? Não entendi... – Sênior estava confuso.
- Mesmo se fosse agora o momento de decidir, alguns de vocês aceitariam descer, não é mesmo? E isso é tão verdade quanto dizer que alguns de vocês não desejam descer. Em resumo, alguns irão descer na missão, outros irão simplesmente embora de Gaia, enquanto outros ficarão ao lado. Sabem, haverá o momento certo para as vontades se manifestarem, e isso irá acontecer.
Sênior observou Castiel e, após, os outros, e viu que o que o antigo dissera era verdade, estampada na face de cada ganedrai.
Suspirou pensativo.
- O que viram nas possibilidades? Há como reforçar as linhas mais promissoras? – Sênior perguntou enquanto vasculhava outras linhas de possibilidades, tentando encontrar alguma forma de reforçar as linhas mais luminosas.
Então ficou em silêncio, como todos os outros se mostravam. Sabia que o conselho conversava reservadamente, os olhos fechados, a expressão pacífica e distante.
Aguardou.
- Para reforçar a linha que se mostra mais promissora um grupo será formado – falou o antigo quebrando o silêncio, - um grupo em que parte irá ser tomada das sombras e que fortalecerá a luz. Os que irão compor esse grupo serão chamados de Veladores, pois por Gaia eles irão velar. Esse grupo está muito lá na frente, como uma família. Ainda não se conhecem como tal, mas irão, como parece que sempre foi a intenção do Trovão.
- Se esse grupo ainda não está formado, alguns de nós faremos parte dele, tomaremos parte nisso? – Jasmiel se interessou.
- Alguns desses veladores vocês serão – esclareceu com um sorriso descuidado no rosto, avaliando todas as linhas que agora começavam a se mostrar para os tempos à frente. – Vejam as linhas – pediu.
Sênior, curioso sobre o que o antigo apontava, seguiu o seu conselho. Porém, ficou estupefato quando viu as novas linhas de possibilidades se mostrando e se tornando mais fortes à frente. Um novo grupo de família se reconhecia e se unia, muitos da escuridão sendo retirados. Pessoas e demônios em luz se tornando, se recriando e se fortalecendo na luz, com sombras não definidas de outros seres a eles se juntando, que sabia serem esses alguns ganedrais descidos e esquecidos, mantidos assim para não se influenciarem. Seriam eles a ponta da lança que atenderia o chamado e iriam agir sob o céu daquele planeta, preparando o caminho e o protegendo para seres de grande envergadura, enviados diretamente pelo UM. Esses preparadores do caminho seriam em número de três, e foi só o que viu, e nenhuma outra informação sobre eles conseguiu obter, o que respeitou. Fechou novamente os olhos, atento ao novo grupo. O impacto que sentiu ao observar os veladores foi pesado e terrível.
Assombrado abriu os olhos, que fixou no antigo e nos outros conselheiros.
- Não pode ser verdade isso – ouviu Derfla questionar os conselheiros, tão assombrado quanto ele, tal como os ganedrais se mostravam, conferiu ao observá-los rapidamente.
- Por que não? – ouviram a pergunta do antigo naquela voz calma e conciliadora.
- Porque ele é o Mercator... Porque ele é...
- O matador de arcanjos? – sorriu um outro conselheiro, de face tranquila e jeito bonachão.
- Não só por isso. Ele também não é fragmentado... Seu poder é muito, muito grande e... e ele é um louco escuro... – sofreu Sênior.
- Você, Sênior, sabe por que, na verdade, ele ficou louco?
- Pela maldade e...
- Não, meu amigo, não foi pela escuridão. Foi por amor, e o Trovão sabe disso.
Sênior observou os outros, e viu que eles estavam tão estupefatos quanto ele. Amor? Mercator ficara louco por amor? Voltou os olhos para o conselho, temendo que tivessem sido confundidos pela escuridão. Mas viu que não era isso. Eles estavam luminosos, plenos, e se mostravam assim, se antecipando para destruir as dúvidas que iriam pairar no ar. Sênior suspirou, como os outros.
Derfla inspirou forte e prolongado, os olhos passando pelos ganedrais.
- Acho que entendo – disse. – Afinal, vi outros anjos de alto poder quase se perderem na loucura, por amor.
Os ganedrais pararam os olhos nele, permanecendo quietos por um longo tempo, sob a atenção dos conselheiros. Por fim, com um suspiro profundo e dolorido relaxaram.
- Entendo... – sussurrou Sênior após algum tempo. - Essa linha será extremamente perigosa e estreita – sofreu. - Eu não acho que o êxito esteja...
- Vocês viram, meus amigos? Há outros demônios ali, tão perigosos quanto Mercator, que serão os apoios para a ascensão de Gaia. Observem cada um deles, pois três eles são, e vejam suas almas gêmeas, flores azuis que são. Está tudo bem...
Sênior voltou a examinar as silhuetas dos Veladores que podiam ser vistos, um por um, percebendo com alguma clareza que três deles eram demônios, e viu as flores que o antigo mencionara. A fragilidade do plano o deixou sem palavras, o peito palpitando.
- Frágil demais – Derfla sofreu. - A dimensão onde os veladores irão agir é muito, muito densa. Os que descerem se perderão, talvez alguns enlouqueçam, se desesperem. Possivelmente, alguns deles até pensem em desistir, se esqueçam do que os move, e acabem por não acreditar mais na luz... E as almas gêmeas podem se tornar o maior ponto de perda, porque se algo acontecer a elas os demônios definitivamente se perderão...
- Tudo isso, e muito mais que não foi dito, de luz e escuridão, é a pura verdade – Sênior sorriu compassivo, seguindo os pensamentos que brilhavam nos olhos dos conselheiros. – Por isso eles irão precisar de apoio amoroso – falou, após pensar no silêncio que Derfla provocara. – Eles precisarão de sussurros, de empurrões, de quem lhes barre os caminhos ou lhes abra os olhos, e até mesmo de alguém que os tire da missão.
Um silêncio pesado e denso caiu sobre todos, sob o olhar aprovador de odo o conselho.
- Acho que eu não gostaria de ser um desses... – Anaita falou baixinho e sofrido, preocupada com o que ouvira.
- Na verdade nunca ninguém está só – murmurou um conselheiro. – Até mesmo nós anjos, demônios ou qualquer outro tem apoio, tem orientação. Os veladores não estarão abandonados, ainda mais considerando a envergadura do que está sendo proposto. Por isso que nem todos de vocês irão descer. Alguns permanecerão, como esse apoio visto.
- Sabe quem são os que irão permanecer, ou os que irão descer? – perguntou Derfla, os olhos atentos no antigo, que apenas sorria.
- Ah, nem tudo se mostrou ainda, meu amigo, porque a linha vai se construindo. Quanto a quem de vocês, ou quem será de outros de poder, nem mesmo nós sabemos, nobre Derfla. Vocês têm alto poder, por terem se fragmentado muito, muito pouco – falou, se dirigindo aos ganedrais. - Por isso, as decisões de vocês são muito, digamos, nebulosas até para nós. Muitos de vocês irão exercer o livre-arbítrio e deixarão suas asas e seus poderes e irão descer. Quantos e quais de vocês são, não nos é dado saber.
- Então quer dizer que todos nós poderemos descer – aventou Sênior. – Se vocês não podem nos ver tão claramente, como saber se todos não escolheremos descer?
- Como já foi dito, não conseguimos ver em profundidade, porque poderes bem maiores estão em ação. Mas, o que disse é verdade, todos vocês poderiam descer, mas é pouco provável que todos abracem essa missão. Não sentimos todos vocês lá, como veladores...
Sênior ficou quieto, ainda mantendo parte de sua atenção em outras dimensões e outros tempos. O que o antigo dizia estava certo. Via os sinais, e nem todos os ganedrais haviam descido como veladores. E os sinais que se mostravam eram tão fracos e singelos que não conseguia identificar a energia individual deles. Sofreu pelos que se decidiriam a descer.
- Um escuro poderá ter acesso aos veladores? – se preocupou.
- Isso é possível. Por isso os veladores serão seres, digamos, especiais.
- E se acaso algum deles se perder e não puder ser encontrado? – sofreu Khyah.
- Se essa for a escolha dele, então outro assumirá sua missão – falou um conselheiro.
Sênior suspirou profundamente, o coração apertado e dolorido ante a enormidade e o risco da missão que se desenhava.
- Meus amigos – interveio o antigo, - não devemos esquecer que cada uma das centelhas escolhe seu próprio caminho. Anjos, demônios, comandantes de frotas, conselheiros..., ganedrais, veladores, tardischs... Nunca estamos sós, nunca estamos abandonados. Os veladores começarão como poucos, mas o aumento da energia do planeta compreende alteração de seres, despertar de centelhas. Os veladores, que começarão em pequeno número, irão aumentar com o tempo...
- Os veladores virão dos ganedrais e desses outros demônios? – perguntou Jasmiel.
- É o que se mostrou como a linha mais forte. Parece haver uma forte ligação entre vocês e Gaia, bem como entre Gaia e esses três demônios.
- Fora o Mercator, quem são os outros dois? – quis saber Sênior, a preocupação boiando em sua voz.
- Não conseguimos ver, Sênior.
- Mas, por que o grupo de veladores não pode ser formado por outros elementos? – perguntou Jophiel, a voz num fio.
- Porque não é dado a nenhum outro grupo poder para interferir diretamente com a decisão de Gaia.
- Por que? – sofreu Castiel, a voz quase sumida.
- Porque essa foi a decisão de Gaia...
III
Sênior observou aquele mundo de cores vivas e límpidas. O sol, poderoso gigante azul, começava a descer para o horizonte, fazendo as sombras se alongarem pelo chão e pelas faces das montanhas.
Derfla estava em silêncio, os pensamentos mergulhados fundo em tudo o que ouvira, sentira e vira.
- Há algo mais – falou, levantando o olhar para o conselho de anciões. – O que há, que não consegui ver?
- Derfla, nem mesmo nós conseguimos ver toda a tapeçaria que está sendo tecida. Mas, realmente, há algo mais, e isso foi tocado até mesmo pelo Sênior, que todos deixaram passar.
Derfla franziu o cenho, e então viu o que era.
- Os apoiadores..., - suspirou.
- Sim, esses apoiadores surgiram sim. Eles serão conhecidos por Sentinelas.
– Quais ganedrais não irão descer, que ficarão vigiando e cuidando dos veladores?
- Por enquanto, meu amigo, só identificamos uma forma sem definição, e apenas um sendo. Mas vimos outros em alguns momentos, que se revezarão ou se unirão nesse papel, seu numero aumentando e diminuindo.
Sênior viu alguma reação em Elahin, que se mantivera até o momento apenas como um observador, e se pegou dizendo que teria que prestar atenção naquele ser, porque algumas coisas dele deveriam ser esperadas, algumas linhas de possibilidades que poderiam cruzar o caminho seu e de seus irmãos.
- E esse ganedrai que viram, esse Sentinela, irá permanecer assim?
- É o que se mostrou. Em alguns momentos ele irá descer e se juntar a eles, em outros se mostrará oculto, mas sempre atento aos seus irmãos, como um eterno sentinela.
Sênior sentiu uma pontada sutil em seu peito. Depressa a deixou passar, o que não passou despercebido para Elahin.
- O ser que descreveu me parece ser o Sênior. É ele? – perguntou Khyah quase em um sussurro, evitando olhar para o amigo.
- Não conseguimos ver. Mas pode ser ele, como pode ser até mesmo você. De alguma forma, mesmo no tempo que vem, ele se mantém oculto. Em todo o caso, é fácil ver que ele irá agir como um tardisch, atento, cuidadoso e amoroso, o que muitas vezes o fará desembainhar sua velha espada.
- E, para piorar tudo, Gaia será mantida isolada – Sênior murmurou tomado de preocupação.
- O que não será empecilho para alguma ajuda, não é mesmo? – sorriu o antigo.
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