《ALÉM DA CORTINA [português]》O CÓDIGO DOS DESCIDOS

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Aceitei uma forma de agir apenas para calejar minha dor e não a sentir tanto. Mas, eu sabia que não iria funcionar...

Lázarus se recriminou por não ter prestado mais atenção nos sinais. Quando Haamiah enviou a eles e outros Ganedrais para proteger um pequeno sistema de uma anã vermelha e se dirigiu com o grosso do exército para milhares de anos-luz de distância, onde o ataque dos escuros parecia ser terrível, simplesmente obedeceu e deixou as coisas acontecerem.

- Algo não está certo – falou Castiel assim que a última nave escura foi destruída.

Sênior ficou em silêncio, e viu o que ele sentia. Observou todos os outros, e viu neles o mesmo sentimento de assombro e incredulidade.

- Vamos, temos que colocar um basta nisso – Sênior comandou, volitando no mesmo momento.

Assim que surgiu dentro do espaço do enorme sistema seu coração bateu descompassado. Havia enorme destruição ali, e não era só de escuros. Anjos às centenas estavam destruídos, alguns ainda em agonia, que parecia não fazer surgir qualquer sentimento de piedade nos atacantes.

Sênior levantou os olhos e o encontrou.

Haamiah estava mais para dentro do sistema, cercado por três anjos, que logo destruiu.

Viu o exato momento em que foi notado, e como foi sondado por ele. Haamiah mostrava uma dureza fria e perigosa.

Surpreso sentiu uma poderosa forma pensamento se insinuando em sua mente, e rapidamente a bloqueou. Não foi difícil localizar de onde vinha o ataque. Quando atingiu o ser de onde originara o ataque o grito e o medo pareceram se irradiar por todo aquele espaço.

- Eles deixaram o código – gritou para os que o acompanhavam. – Se protejam, e tenham muito cuidado. Vou procurar Haamiah, e ver se consigo parar toda essa loucura – falou, logo surgindo ao lado do amigo, que o aguardava.

- A força não foi desmedida, Haamiah? - criticou.

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- Não acho! Foi, tal como eles devem ter feito com as criaturas mais adormecidas que eles - se justificou. – Pagamento igual.

- Abriu mão do código dos descidos?

- Não sou um descido. Sou um impartido, e assim eu agi.

- Mas esse código está em nós. Mesma medida, se lembra? Nós fazemos o nosso código, se lembra? Proteger a luz, Haamiah. Combater a escuridão assim só a tornará mais densa, ao lhes negar qualquer possibilidade de...

- Esqueça esses argumentos, meu irmão. Essa agora é a nossa forma de parar toda essa loucura – ralhou.

- Entendo. Para parar essa loucura temos que ser o suprassumo da loucura, é isso?

- Que seja assim.

- Não é assim que sou, não é assim que vou agir. O código tem que ser...

Lázarus foi pego de surpresa quando ele subiu a energia, a luz queimando, varrendo todo aquele lugar.

A dor que sentiu era indescritível, e teve que usar todo seu poder para não sucumbir. Então conseguiu volitar para um lugar mais afastado, e gemeu de desespero ao ver que todo aquele sistema pelo qual julgara que Haamiah lutara estava em chamas. Não havia mais vida, e até mesmo o sol estava prestes a explodir, tal a injeção de energia que tivera.

Usando a energia violenta que tentava consumi-lo, depressa o estabilizou, como estabilizou vários dos planetas, no que foi ajudado pelos seus.

Lázarus viu o anjo surgir de súbito ao seu lado, a espada penetrando profundamente em seu peito. Mais que depressa envolveu o que ela era e a desfez numa energia, que assimilou, se afastando um pouco, os olhos confusos em Haamiah, que o observava com uma dureza que poucas vezes vira.

Então sentiu a energia se deslocando com a volição de Haamiah. Quando ele surgiu já o esperava. O outro sentiu toda a força do golpe e tentou se afastar desnorteado, mas Lázarus não permitiu. Agora sabia que nenhum outro iria tentar um golpe cego como aquele.

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De súbito desfraldou as asas, as apontando para cima, que colheu o anjo que caia sobre ele. Enquanto ele se debatia simplesmente abriu as asas e o partiu em pedaços.

Olhando ao lado viu que os seus agora se batiam com um inesperado inimigo, de quem, há bem pouco, haviam se separado como amigos e irmãos.

Lázarus inspirou com cuidado, ainda indeciso que decisão deveria tomar quanto à Haamiah. Assim que o encontrou novamente, dando cabo de dois de seus irmãos, foi em sua direção. O anjo que se interpôs em seu caminho se sentiu travado, não conseguindo esboçar qualquer movimento que não fosse dos olhos. Seus aterrorizados familiares ao lado viram Lázarus passar por ele, a espada emitindo um suave zunido. Quando passou por ele, e antes que fechasse os olhos, sob gritos estridentes começou a se desfazer.

Os outros se afastaram, e tudo se aquietou e a batalha cessou.

Haamiah o observava com cuidado, sem se mover, sem esboçar qualquer reação.

- É assim que lutará em Urântia? – perguntou ao parar na frente do outro.

- Não deveria?

- Você destruiria toda Satânia.

Ao ouvir isso, Haamiah pareceu suavizar sua expressão e se controlar.

- Sabe que não. Estou ciente do bloqueio, ao menos por lá. Eu a amo, e não faria mal a ela.

- Que bom. Logo serão poucos os impartidos, e esse bloqueio irá se estender.

- Não terei qualquer problema quanto a isso, lá. Está contra mim, não está?

- Sabe que não. Quando guerreio não o faço com espírito de vingança ou de ódio, nem mesmo com arrogância. Sei que combato irmãos que acreditam em coisas de uma outra forma. Eu apenas os impeço de impor sua forma de pensar aos meus outros irmãos.

- Mas sabe ser severo e rude... Brutal até, eu diria.

- Sou implacável e severo porque, nas penumbras em que vivem, é a única forma de agir que eles prestam atenção, e aprendem. E, na verdade, é o que eles buscam: aprender. Mas a diferença está na forma como exerço o meu poder...

- Ah, eu entendo, Sênior.

Haamiah relaxou por fim, voltando a ser o amigo de que tanto se lembrava, o que espalhou uma onda de alívio por todo aquele sistema.

Um lamento subiu por dentro do sistema, quando viram o que tinham feito ali.

Lázarus sentiu sua tristeza aumentar, vendo que a aquela dor que sentiam, aquela culpa que sentiam, ia fazer sua cobrança.

Voltou os olhos para Haamiah, e ali viu confirmados seus temores.

Ele se virara para examinar o sistema, que antes havia florescido e aninhava algumas belas civilizações, mesmo quando resistiam aos escuros.

> Estou muito tentado a jogar a culpa por essa destruição no que fizeram conosco, mas sei que seria fraqueza. Foi a nossa fraqueza, a minha fraqueza que causou isso – sofreu.

- A culpa que está sentindo, Haamiah, deve ter cuidado com ela. Ela irá te puxar para dentro da experiência, e você acabara mergulhando.

Haamiah se virou e levantou os olhos.

- Será que já não estou em queda, meu irmão? Eu até mesmo abri mão do código dos descidos. E você deve ter sentindo, que mesmo abrindo mão dele, meus poderes não eram plenos.

- Lembra-se quando decidimos voltar a nos tornarmos energia do coração? A escolha sempre é nossa... Cabe a você decidir, meu irmão. Cabe a vocês decidirem – falou para todos os que o ouviam em silêncio.

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