《MEMÓRIAS DE UM DEUS - Ficção [português]》A ESCOLA

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Eu me esforço em aprender a controlar minha face escura. Já foram muitas vidas gastas nisso, mas eu estou avançando. Vai dar tudo certo...

- Este é Avenon, o velho novo amigo de quem lhes falei – Lázarus sorriu, apresentando-o para os outros.

- E aposto que você está com ele – Avenon riu, se referindo à mulher que acompanhava o grupo, ao ver o nefelin estranho de olhos azuis se aproximar um pouquinho mais da linda morena, que viu se tratar de uma humana.

- Sou Mulo, é esta é Valentina. E sim, estamos juntos – sorriu de forma quase indistinguível.

Lázarus, que seguiu a breve conversa, balançou a cabeça, o divertimento grudado na face, vasculhando com calma no alto das montanhas da passagem sem tirar a atenção do que acontecia bem ao seu lado. O inverno crescia e o ar parecia mais choco, com os sons se movendo mais pesados. O céu estava impecavelmente azul, a lua crescente quase transparente, escondida no anil.

- Pelo Trovão, que desespero, menino – riu Ariel divertida. Você não tem ninguém, não? – perguntou animada puxando-o pelo braço e fazendo-o sentar, o que fez todos os outros rirem.

- Ainda não... Mas, sou novo ainda. Então, o Lázarus aqui me falou sobre vocês dois, e confesso que fiquei doido para conhecer vocês. Uau, um dahrar e uma humana. Incrível isso – falou, uma admiração maravilhosa na voz, o que fez Valentina sorrir satisfeita.

- É um grande prazer te conhecer também, Avenon – cumprimentou Valentina com um enorme sorriso sob o olhar divertido de Lázarus, que se mantinha tranquilo ao lado. – Ele também nos falou sobre você, o que nos deixou muito desejosos de te conhecer também. Ele nos contou que você é um antigo e esquecido membro da família dele. Quer dizer, que você esqueceu, mas não ele... Ah, deixa pra lá – sorriu confusa, vendo que precisava mudar de assunto.

- Eu entendi, Valentina, e agradeço sua atenção, ... Então, podem me explicar? Um dahrar – falou fazendo menção a Mulo. - Lázarus tinha me dito, quando nos conhecemos, que não era lá muito fã deles – riu divertido.

- Ah, mas isso não é estranho não. Eu também não sou fã deles – falou Mulo.

- Mas há muitos deles que são bons – declarou Ariel, divertida.

Avenon viu Mulo o observar com interesse, e havia paz de reconhecimento naquele olhar.

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- Pela cara de vocês acho que algo importante está para acontecer aqui. O que vai ser? – falou se encostando numa grossa árvore.

- Controle dos lados sombrios – falou Mulo, olhando em pergunta para Lázarus, que insistiu em se manter quieto.

- Ah, entendi... Então... Vamos ter uma escola, é isso? – perguntou todo risonho e satisfeito, olhando à volta. – Se precisarem eu posso ajudar.

- Ora, então não te contaram, Avenon? Você também está matriculado – Ariel contou rindo. – Como aluno.

- Olha, então isso é bom – falou Avenon satisfeito, sem muita convicção. – Eu vou ter que controlar o que mesmo?

- Nós três aqui – falou Lázarus se referindo a Mulo e Avenon, - temos algo diferente dentro de nós. Na verdade, todo ser criado tem essa dualidade, o bem e o mal, a luz e a escuridão. Mas a escuridão, na grande maioria, é insinuante, que se enraíza em um ser não atento e não desperto. No nosso caso, ela é mais agressiva.

Valentina e Ariel, sentadas um pouco distante, se mostravam distraídas, apesar de estarem atentas ao que Lázarus dizia.

> Eu com meu lado guerreiro, Avenon com sua face anaquera do pai suavizada pelo seu lado manira-ellos herdado da mãe; e Mulo, com seu lado demiana da mãe em conflito com seu lado juguena do pai...

- Juguena? – surpreendeu-se Avenon, interrompendo Lázarus.

Mulo o observou.

- Anaquera também é forte – falou com um sussurro, percebendo que estava avaliando os dois lados sombrios.

Lázarus deu uma tossidinha, enquanto as duas riram divertidas.

- Continuando...

- Espere, só um pouquinho, Lázarus – Avenon o interrompeu, a estranheza no olhar. - Tá, eu tenho uma parte anaquera, mas me dou bem com ela. Vou precisar aprender o que?

Sem qualquer aviso Lázarus se adiantou, o rosto chegando a milímetros do rosto de Avenon. A reação foi explosiva. Avenon saltou, o corpo todo poderado, as garras se arrastando no ar, riscando a face sugerida de Lázarus, uma escuridão se insinuando em seu coração.

Confuso se despoderou, o olhar em dúvida voltada para Lázarus, que se mantinha sentado no mesmo lugar.

- Não entendi... Eu apenas me defendi e...

- O seu poder é maior do que um anaquera comum, Avenon. Você é recente em sua queda, e o poder que tinha como alguém de uma família de anjos velhos é ainda muito forte.

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- Anjos velhos... – Mulo cismou. – O que é isso? O que isso quer dizer...

- É como chamávamos a minha família de anjos – disse Lázarus.

- Ah, entendi... – Avenon sorriu. - Tudo bem, então. Estou todo atento então, chefe...

Lázarus não teve como não sorrir divertido. O senso de humor de Avenon lhe trazia maravilhosas lembranças de uma grande família.

– Bem, como eu ia dizendo, essa aqui não é uma escola, e não vamos ter muitas lições. Haverá uma lição, e só essa.

> Você primeiro, Avenon – falou se levantando e virando-se definitivamente para ele.

Avenon também se levantou e o olhou com estranheza, percebendo com preocupação que o dahrar juguena se afastava para junto das meninas.

- Vai doer? Tipo, muito? – perguntou, um riso bailando no rosto, tomando a lança que girou na frente do corpo, imaginando o que iria acontecer.

- Sem armas – Lázarus avisou, tirando seu cinto com a espada, que levou e entregou para Ariel, bem como suas adagas e espadas curtas.

- Ora, dessas eu não sabia – riu a vigilante, olhando com curiosidade as duas adagas que emitiam uma pálida luz azul.

- E eu, entrego para quem? – riu Avenon debochado, mostrando a lança e apontando para a espada.

- Ora, para mim. Não somos amigos agora? – riu Valentina, sob o olhar divertido de Avenon.

Quando se postou de frente para Lázarus viu que o negócio ia ser feio. O anjo estava muito concentrado e sério.

- Eu serei o primeiro porque sou o demônio mais fraquinho? – perguntou forçando um sorriso, o que deixou Mulo um pouco divertido.

- Em nós há um conflito – falou Lázarus, desconsiderando a pergunta de Avenon, - entre a luz, que quer apenas paz e amor, e a escuridão, que tenta desesperadamente inocular e aumentar medo e saudade. E só há uma forma disso acontecer...

Sem que houvesse tempo para qualquer um entender o que Lázarus pretendia ele avançou e, tomando Avenon, simplesmente os tirou dali.

Os três se levantaram assustados. Procuraram por toda a volta, tentando ver para onde eles poderiam ter ido.

Ariel gritou de frustração, se concentrando em encontrar as energias dos dois, nessa e na outra dimensão. Mas viu com horror que eles não podiam ser encontrados.

- O que aconteceu, Ariel? O que aconteceu? – perguntou Valentina apavorada, os olhos preocupados com o que poderia estar acontecendo, e o que poderia estar reservado para Mulo.

Sentindo o momento viu que tinha que acalmar a todos, principalmente a ela mesma.

Ariel ficou em silêncio, apartando sua mente, procurando, vasculhando. Então, suspirou e olhou para os dois que procuravam entender o que acontecera.

- Eu não consigo encontrá-los, mas eu confio totalmente em Lázarus – ela disse por fim, forçando uma tranquilidade satisfeita na voz, o que acalmou um pouco os dois.

Ariel desconfiou do que Lázarus estava arriscando, e seu coração se apertou por ele, enquanto mantinha a face tranquila nos olhos inquietos

Então, passados alguns minutos, eles surgiram.

Avenon parecia cansado, mas estava bem.

Antes mesmo que pudessem dizer algo, para surpresa de todos Lázarus avançou para Mulo, que parecia em paz, aguardando o anjo.

Quando Valentina e Ariel se viraram para onde Mulo estava perceberam que eles já haviam partido.

As duas se viraram assustadas para Avenon, que as olhava com uma tranquilidade e confiança que não estava ali antes.

- Vai ficar tudo bem. Lázarus sabe o que está fazendo – tranquilizou as duas.

Ariel bem que tentou se acalmar. O que desconfiava que Lázarus tinha feito com Avenon era uma coisa perigosa, mas temia o que poderia acontecer se fizesse a mesma coisa com Mulo. Afinal, ele não poderia reagir ao que Mulo fosse apresentar. Com o desespero na alma ficou desejando confirmar suas suspeitas junto a Avenon das intenções de Lázarus, mas simplesmente não tinha forças para isso, além do medo terrível que o que pensava que ele estivesse tentando se confirmasse.

Usando de todas as suas forças pregou um sorriso no rosto, um sorriso nervoso que todos viram ser falso. Então, junto com os outros dois, restou apenas ficar aguardando, rezando para que tudo desse certo.

Ariel gritou de desespero quando eles surgiram.

Um ser feito de neblinas densas trazia em seus braços um anjo desfalecido. E havia uma maldade naquele ser que apavorou todos os que estavam ali, que depressa puxaram suas armas e se prepararam para atacar e tentar salvar o anjo que ainda parecia respirar.

Todos estavam poderados e já com as armas apontadas para o ser, com exceção de Valentina, que se fixava assustada nos olhos do dahrar.

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