《ALÉM DA CORTINA [português]》A DECISÃO DE CAIR - Tempo matéria – Um pouco mais densos

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Foi num sol que foi criado o carbono.

Me digo que não tinha escolha, e quase consigo acreditar nisso quando me recuso a encarar a minha alma.

I

- Mas não há outra forma - a voz de Amadiel saiu forte e determinada. - Temos que confrontá-los, e não conseguiremos isso sendo o que somos. Temos que nos adensar por escolha, para podermos revidar e livrar as três irmãs[1]. Eles já não são tão inocentes quanto eram. Eles estão mais maldosos, pois que caíram mais fundo – explicou.

- Mas, esses escuros também são nossos irmãos. Eu acho que nós só temos que lhes dar...

- Não vê que o que são é apenas uma escolha que fizeram, Zaniel? O que vier como consequência também é da escolha deles – falou com convicção.

- Certo, eu consigo ver isso – concordou após um breve tempo em que se recolhera. - O que sugere, então?

- Apenas a alternativa que surge – falou, a luz de que era feito pulsando numa energia um mínimo mais dissonante.

Melchior observou Amadiel e todos decaíram suas luzes, mostrando um brilho mais duro e menos fluído.

Samael olhou as largas fileiras angélicas, todas ligadas, sentindo o pulso da dimensão, uma onda de vibração em que se diziam que não havia outra alternativa possível. Tinham que reagir, tinham que aprender a reagir, fazer frente e impedir o avanço terrível dos escuros, que a tudo buscava corromper e contaminar.

A solidão que sentiam, apenas como uma brisa distante, pareceu se adensar um pouco mais, tornando-se mais perceptível.

Samael suspirou, se acalmando, deixando a mente em paz, para poder fazer frente aos sentimentos confusos que o perturbavam, como todos os outros estavam fazendo, percebeu.

Qualquer queda era em si um misto de abandono e solidão, de desconfiança e indecisão, que só aumentavam quanto mais a queda se acentuasse. Mas, o que mais assustava, era o aumento do ego e do medo.

Devagar olhou para Haamiah e o viu pensativo, como se estivesse avaliando todos os possíveis caminhos e as consequências que poderiam ter.

- Meus irmãos – Haamiah se virou para eles, a luz aumentada e pulsando gentil e compreensiva, - não podemos deixar o medo anuviar nossos corações. - Sei que é difícil de encarar isso, que é difícil aceitar que assim tem que ser. Essa queda que estamos avaliando será muitas vezes maior do que quando éramos os velhos guerreiros. A escuridão se adensou muito em relação àqueles tempos, o que nos exigirá um esforço maior. Então, que alternativa temos? A escuridão não pode avançar livremente assim, corrompendo assim, enegrecendo corações assim... Já permitimos isso uma vez quando os deixamos em paz, e eles apenas se perderam mais, e mais consciências sacrificaram.

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- Chegamos num ponto perigoso das experiências que escolhemos ter, porque é isso que parece estar acontecendo. Se isso se apresenta a nós é porque, de alguma forma, temos que passar por elas – Samael tomou para si a palavra, a energia que emitia num tom um pouco mais baixo. – Gostaria que não fosse assim, gostaria de dizer que será fácil de voltar atrás, mas confesso que não sei se esta é uma verdade. Sim, eles são nossos irmãos, mas não estão se atendo apenas às experiências que desejaram, mas procuram das formas mais terríveis impor a nós e a todos os multiversos sua própria visão do que deve ser experimentado. E eu digo que não vou querer experimentar isso, que não vou aceitar isso. Sei que eles têm direito às suas escolhas, mas não é direito deles escolherem por nós. Esse é o momento em que também fazemos as nossas próprias escolhas, e é preciso que eles sejam lembrados que também temos direito a isso.

- Acha que eles estão perdidos, Samael? – perguntou Azazel.

Samael a observou, e não pôde deixar de sorrir com tanto amor e compaixão que ela transbordava pelos irmãos que se ocupavam das sombras.

- Isso, nunca poderá acontecer, minha querida irmã. Nada está perdido, porque todos somos UM. Mas, temo que o sofrimento que experimentarão, e com que afligirão a muitos outros, levará um tempo longo demais para ser recuperado. Eles caíram, por ora – falou, tentando imprimir na voz um tom de confiança.

- Bem sabe que, assim, alguns de nós irão cair mais que outros, e que desses muitos irão se perder, não sabe? – gemeu um anjo de poder, pulsando forte em violeta.

Samael o observou, compartilhando sua dor e sua agonia pelo que estava para ser desencadeado.

- Sei! Por isso, essa é uma escolha que cada consciência deve fazer por si mesma. Não há julgamento, nem para aqueles que escolherem se opor à escuridão, nem para aqueles que escolherem ficar apenas observando ou servindo de apoio à distância, ou para aqueles que resolverem partir e se abrigar em algum local distante. Mas, você está certo: muitos irão se perder na escuridão, porque quando se combate algo, alguma coisa dele nos sincroniza. As opções estão aí: podemos cair, podemos vencer, podemos ter nosso merkabah duramente atingido, a tal ponto de termos que ser resgatados e levados para a fonte, ou... São muitas possibilidades. Eu as aceito, até mesmo àquelas que não consigo ver ou medir. Essa escuridão tem que ser barrada, por amor àqueles que desejam apenas paz e alegria, e compaixão por aqueles que acham que estão apartados disso para sempre.

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Haamiah ficou em silêncio enquanto os movimentos se intensificavam. Então, lentamente, muitos se despediram e simplesmente se foram

Todos pacientemente aguardaram.

Por fim, após um longo tempo, frente à grande muralha de anjos que aceitavam a nova face da experiência, Haamiah observou as três irmãs ao longe.

- Estamos indo...

II

O primeiro lugar que atingiram foi Mitra, e após Vintra e, por último, Aden. No começo, muitos dos seus foram eliminados pelos escuros, porque muitos resistiam voltar à energia do ego. Porém, logo foram reaprendendo a se defender e, consequentemente a atacar, isso após observar e aprimorar as próprias técnicas dos escuros, que usavam uma mistura de ataques mentais, espirituais e físicos, alternando com extrema rapidez as dimensões sob ataque.

- Não se esqueçam que eles não conseguem subir muitas dimensões – lembrou Amadiel.

- Eu os vi só até a quarta média – acrescentou Jasmiel.

- Essa é uma vantagem. Vamos usá-la – comandou Haamiah, mergulhando veloz acima da quarta dimensão, de onde retornou e atacou com força uma pequena esquadrilha de naves dos escuros.

Demorou ainda muito tempo, mas as vitórias foram se somando lentamente, cada aprendizado se acumulando, cada dor tirando-lhes a esperança de que os escuros iriam, de uma hora para outra, despertarem, com tal constatação endurecendo lentamente seus corações.

Demorou ainda muitas centenas de anos de batalhas, mas por fim conseguiram liberar as três irmãs.

Perto da órbita de Aden as três mônadas foram ao encontro dos anjos.

Angelina sentiu uma pressão no coração quando as viu.

Elas ainda se mostravam fortes, e havia nelas aquele brilho gentil e amoroso de que se lembrava, mas o que a fez silenciar foi ver que a esperança de dias brilhantes à frente não estava mais ali. Mitra e Vintra mostravam uma desesperança menor, não que essa desesperança fosse muito menor em Aden.

Aden sempre fora uma mônada gentil e de uma luz suave, se lembrava, que fazia pensar em uma carícia de um amanhecer num cheiroso campo de flores.

Mas não agora. Agora sua luz se mostrava mais esmaecida e manchada de tons vermelhos e de uma cor cinza chumbo.

Via-se claramente que elas tentavam, com muito esforço, se curar, se estabilizar.

Todos juntos se preocuparam em transmitir-lhes energia para que o conseguissem.

Mas, o que mais doeu em Samael, foi ver que a felicidade explosiva e cativante com que haviam se maravilhado, há e muito tempo, logo quando as mônadas entraram nos blocos de rochas que se aglutinavam em torno daquele sol amarelo, não estava mais ali.

Em silêncio os anjos ficaram ouvindo as canções das mônadas, e as acalentaram. Por fim elas se foram, preocupadas com as inúmeras centelhas que cuidavam.

Da órbita do planeta Samael ficou observando a profunda escuridão além de Aden, seu coração incomodado e pesado.

- O que o incomoda, Haamiah? – quis saber Samael. – Não está feliz por termos as três irmãs de volta?

- Por quanto tempo, Samael? Essa vitória se mostra provisória. Temos que conhecer realmente esses escuros, entender como uma queda tão drástica como essa ocorreu. Sem conhecê-los corremos o risco de sermos vencidos novamente, e as três irmãs nos serem tomadas de novo. As quedas deles estão muito mais acentuadas. Temos que saber deles.

Então todos que ouviam, porque todos estavam em todos, se voltaram para além, se perguntando de onde eles tinham realmente vindo, e como realmente os escuros haviam caído daquela forma tão profunda.

- Temos que fazer o caminho inverso e descobrir de onde vieram esses demônios e o que os move. As informações que temos sobre eles são falhas, porque nos dói mergulhar fundo. Mas, precisamos. Ao que parece suas mentes acreditam que estão apartadas da criação, mas não suas vontades – cismou Jasmiel, ao qual todos os outros fizeram eco.

Porém, antes que pudessem buscar essa verdade, todos sentiram uma enorme sombra se esticando no sistema de Lira, onde uma das primeiras civilizações crescia naquela galáxia.

[1] Aqui, ele usa uma denominação de conjunto, formado por Urântia, Mitra e Vintra.

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