《UMA ESTÓRIA DANATUÁ (ficção - português)》MINHA SANIDADE

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Eu tinha tanta esperança...

Éfrera finalmente o localizara. Como de costume ele estava no alto de uma imensa montanha. Esta estava localizada mais ao sul, próxima ao vasto e terrível deserto. Ele estava sentado numa face projetada, os pés gigantescos livres no ar, e parecia estar perdido em contemplação ao pôr-do-sol. Era um dia de poucas nuvens, e os raios avermelhados do sol atingiam gentilmente o topo da montanha, o que dava um aspecto algo místico ao demônio.

Sem pensar, porque se o fizesse logo iria desistir, desceu devagar a uma distância segura, para os dois, evitando que houvesse algum mal-entendido. Se policiou fortemente, nesse primeiro momento, em não aproximar as mãos da espada ou das adagas.

Éfrera examinou as faces das montanhas e os vales perdidos muito abaixo, onde as sombras já estavam bem adensadas.

Com apreensão voltou os olhos para Mercator, se perguntando se havia bom-senso no que estava para fazer.

Mercator bufou baixinho, incomodado com a presença não desejada.

Éfrera levantou as mãos, em claro sinal de paz.

- O que quer, demiana? Vingança pela queda de que me culpa?

- Não, eu já sei da verdade.

Mercator tirou os olhos do horizonte, um brilho neles como se tivesse rompido a cantilena que o prendia.

- E como pode ter conseguido uma certeza assim?

- Os anjos...

- Ah, os anjos... Deve tomar muito cuidado com eles. Eles não são de confiança – declarou, voltando os olhos novamente distraídos para o horizonte, a mente novamente presa em tentar entender quem seria.

- Eu confio em você, Mercator – confessou.

- Não deve fazer isso – ele declarou por sua vez.

- Isso não importa muito. Confio em você, e é só. Não consigo explicar, mas é o que sinto.

- E o que te faz confiar em mim?

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Éfrera tinha os olhos doloridos, a mão abandonada ao lado do corpo. Mercator a observou, o pensamento alheio, como se ela não estivesse ali.

- Não sei porque, mas... Mercator, peço que me escute, por favor.

Momentaneamente os olhos de Mercator se tomaram de vida, e ela percebeu que, agora, fazia parte do mundo que ele via. Confiante, ameaçou se aproximar do demônio, buscando concentrar um pouco mais a atenção dele em si.

Estacou o movimento de aproximação na primeira passada. A reação dele demonstrava que não devia se julgar muito segura.

> Tudo bem, Mercator, tudo bem. Vou ficar aqui, vê? Eu,... eu estou oferecendo minha ajuda a você. Sei que irá desconsiderar isso, mas peço que não lance isso fora sem pensar. Na verdade, sou eu que preciso da sua ajuda.

- E por que eu precisaria da sua ajuda? E por que você precisa da minha?

Éfrera o olhou desconsolada, perdida.

> Eu tento não pensar neste mundo, porque se presto atenção nele, me vejo sem... – a voz parou, os olhos de Mercator definitivamente presos nela. – É que, é como se eu não tivesse finalidade aqui. O desespero me ameaça, e eu... Ás vezes eu até duvido do eu ou quem eu sou e... Me foquei em guerrear, sabe? Me dava significado e direção mas, então...

- Um perdido não pode ajudar outro perdido – ele falou, os olhos tornando-se ainda mais pesados.

- Sabe, Mercator, de certa forma eu me reconheci em você. Eu,... Na verdade nem sei porque estou aqui, mas... Eu não sei mais o que fazer, ou a quem procurar...

- Fique com os anjos. Eles cuidarão de você...

- Não preciso que cuidem de mim – reclamou, a face endurecendo-se levemente.

- Então, o que deseja, demiana?

- É que... Você segurou seu braço contra mim inúmeras vezes. Sabe, podemos apenas ficar perto, um do outro, e...

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- Demiana, eu estou cansado demais do ódio. Vê? Só quero ficar aqui, quieto, sozinho. Não quero ninguém ao meu lado, não preciso de ninguém ao meu lado.

- Mas,... Prometo que vou ficar quieta. O que acha?

Éfrera viu o silêncio dele, e viu uma sugestão de paz ali. Devagar se aproximou, e sentou-se ao lado dele. Seu corpo foi tomado de apreensão: havia um poder imenso ali, algo oculto que se irradiava, ameaçador, velado. Mas, inspirou bem devagar, e sorriu ao notar algo mais, algo como uma promessa.

Apesar de sua vontade, ficou em silêncio, observando o pôr-do-sol, tal como ele. E baixou os olhos para as pequenas flores que surgiam enquanto ele se distraia, e que se ia, na grande maioria, quando a atenção do demônio retornava para aquele mundo.

Miguel os observou, tal como os outros.

- Esperava por isso? – assombrou-se o que estava imediatamente ao seu lado.

- É até comovente... – Miguel suspirou, os olhos presos nos dois. - Ela parece tão pequena perto dele – falou para a brisa. – É uma visão e tanto essa, um demônio vendo o pôr-do-sol em paz ao lado de uma demiana. E isso é ainda mais surpreendente quando é o Mercator que está ali, em paz, sentando calmamente ao lado dela. Se eu esperava por isso? – se refez a pergunta que o outro lhe fizera. - Confesso que sim, apesar de não dessa forma grandiosa. Esses dois tem uma ligação que parece que foi forjada há muito tempo.

- É o que parece... A pequena flor azul – se lembrou o anjo, se lembrando até mesmo que, de quando em quando, Mercator destrói uma delas para saber que falta lhe faria.

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