《UMA ESTÓRIA DANATUÁ (ficção - português)》À PRIMEIRA VISTA
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Eu estava lá, ignorante do que iria acontecer. Foi naquele dia que eu soube da luz, foi naquele dia que senti queimar meu coração.
Adanu, o poderoso curupira[1], suspirou, tentando se controlar, os olhos pregados na boca da floresta por onde ela deveria surgir. O grande queixada FuraTerra resfolegou suave, ansioso. Adanu apoiou sua mão sobre sua cabeça ossuda, agradecido pelo apoio do amigo.
Adanu era um curupira muito, muito velho, mas ainda muito poderoso. Todas as florestas e seus bichos o adoravam. Ele cuidava deles há muito tempo, e seus cuidados eram cuidados carinhosos e gentis. Havia uma bondade, uma fina inteligência e uma firmeza que impressionavam. Ele era um dos poucos curupiras que tinham como constante companheiro um queixada, poderoso e de aspecto terrível, ao invés do tímido caititu. Ele tinha 1,80 mts de altura, musculoso, ombros e peito largos, braços e pernas grossos, rosto quadrado e forte, o que o fazia parecer enganosamente baixo. Diferente dos outros curupiras ele não tinha todo o corpo coberto de pelos, mas apenas o peito, pernas e braços, e ostentava uma cabeleira negra e macia que descia até os ombros. Desde que sua esposa fora morta por feiticeiros, longo tempo atrás, nunca mais se ligou fortemente a alguém, apesar do romance discreto que mantinha com a bela mãe-da-mata Itanauara.
O poderoso curupira Adanu se esforçou em aparentar calma, tentando ignorar o calor entranhado, as palmas das mãos suadas e o coração palpitando rebelde. O estômago se espremeu, e Adanu se pegou se perguntando o que faria assim que a visse.
Olhou suas tatus e as viu avermelhadas, e não se importou em dispender energia para equilibrá-las e ocultar suas emoções.
Afinal, sua filha voltava para casa.
Nem acreditara quando ela fora escolhida para ser uma conselheira de guerra. Desde aquele dia seu coração batia diferente, ansioso para que ela atendesse o chamado e voltasse para casa. Desde que se afundaram no mundo e caçaram os que haviam matado Bella, a mãe de Allenda, ela se fora. E, desde então, só de quando em quando, bem espaçadamente, e cada vez mais raramente, recebia alguma notícia de sua filha, até que um dia, muito longínquo, nada mais veio sobre ela.
Mas, agora, ela finalmente retornava para casa.
Como se de muito longe ficou ouvindo vozes sem sentido. Era algo sobre a guerra que voltava a descer as grandes montanhas coroadas, arremessada das alturas pelos demônios terríveis que lá dominavam. Alguma explicação sobre a necessidade da formação de um conselho de guerra para coordenar os esforços de guerra das terras baixas; algo sobre um chamado para o ressurgimento dos danatuás, algo sobre demônios sobre as montanhas, tudo numa confusão de vozes de centenas de seres reunidos que pareciam não dar importância ao que seu coração pedia, desde muitos anos atrás. Por que não davam a devida importância a esse dia?, se perguntou, os olhos pregados na floresta. Sua filha voltava para casa – suspirou, tentando controlar as batidas do seu coração.
Nem se importou em parecer egoísta ao se sentir feliz, não se importando que o motivo dela retornar para formar um conselho de guerra fosse para organizar uma frente e uma vasta guerra contra esses demônios. E quase não entendeu as conversas de que eles já haviam tentado dominar essas terras, anteriormente[2], demonstrado tanto desejo de dominar toda a vida em que pusesse suas fétidas consciências. Sua mente estava longe de tudo o que ouvia.
Nada disso importava mais.
Seu coração bateu forte de saudade e felicidade. A espera o agoniava.
Foi como se tivesse levado um soco, a respiração travada. Frestou os olhos, atento a um setor longínquo da floresta, onde uma luz suave e quase imperceptível se mostrou nas sombras das copas.
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Engoliu em seco, tentando controlar seu coração e a garganta que se fechava, que ameaçavam falhar.
A boca de seu estômago encolheu agradavelmente, e os olhos se acenderam definitivamente enquanto observava como que em transe uma moita de copa mais à direita da trilha que vinha por dentro da floresta, que se iluminava sutilmente. Lentamente tudo foi sendo silenciado até que o som de um ser e de um animal avançando pela trilha ao longe se fez ouvir. Havia uma pressão suave no ar, carregada de expectativa. Então, quando um lume suave e gentil se fez ver com mais nitidez, avançando pelas copas e pelos lados da trilha, já quase na borda da floresta, toda a tensão se foi, substituída por um longo suspiro cheio de expectativa.
Um pássaro piou longe, aumentando a sensação de suspense. Um falcão no céu e o barulho da água escorrendo pela pedra e despencando no precipício pareceram solitários e irreais, pois nada mais havia, a não ser aquela expectativa pesada e grávida.
Allenda voltava para casa, ouviu-se o sussurro escapar de faces cheias de expectativas voltadas para a trilha quase oculta nas sombras, por onde a suave luz avançava.
Allenda, a bela Allenda, a menina que enchera de alegria e luz os dias passados, a menina que cantava e fazia poesias e que sorria como um sol, finalmente voltava para casa. Allenda, uma das poucas herdeiras vivas de um curupira e de uma manira-ellos; a bela Allenda, a mais bela flor-do-mato que já haviam visto, voltava para casa.
Adanu olhava, o corpo levemente dobrado para a frente e suavemente rubro, esquecido de si mesmo. Havia uma leve película de água em fogo em seus olhos, um peso compassado no coração que sussurrava. Havia saudade gigante no seu aguardar, havia esperança nele, uma esperança quieta e paciente, esperança de fim de um passado doloroso. Era a sua filha que retornava, seu coração sussurrava aos seus ouvidos como um sagrado mantra.
Como aquele dia, que precipitara toda sua perda e dor, lhe doía ainda. Por mais que tentasse encarar aquele dia como guerreiro sua dor lhe dizia que iria falhar sempre e sempre, em despedir-se de sua dor, em deixar o destino livre para que seguisse adiante, em deixar que tudo se tornasse seu próprio destino, seu suave e amargo fluxo. Mas ali, bem à frente, tudo estava para retomar seu caminho interrompido.
Allenda voltava para casa, insistiam os sussurros.
Adanu suspirou fundo, a garganta pressionada, a tensão voltando, aumentando lentamente, quanto mais o lume se aproximava da boca da mata numa lentidão exasperante. Fazia muito tempo que ela se fora, raivosa e revoltada, desejosa de guerra, desejosa de vingança, reviu.
Olhou rapidamente para os lados e viu todo o conselho atento à mata, um sorriso descansando esquecido nos rostos, como em todos os rostos que via.
Há muito tempo, que pareciam longínquos demais, logo aos primeiros clarões que anunciavam a alvorada, vindos dos vales sombrios eles surgiram, rescendendo à sombras e coisas ocultas. Eram atacantes nunca antes vistos, cheios de ódio e fome de domínio, e de uma sede estranha de dor. Atacaram com terrível sanha. Sua Bella não sobreviveu.
Após a morte de sua Bella, em companhia dos queixadas e de Allenda se afundou no sertão em perseguição aos atacantes. Tempos depois, quando voltaram dos vales sombrios, estavam sérios e cheios de poder. Cobertos de sangue, em passadas lentas e firmes entraram na aldeia. Em seus olhos a calma e a frieza dos assassinos, e em seus semblantes um profundo e enorme silêncio.
Mas Allenda trazia algo mais - ela havia experimentado o destino.
Então, para tristeza de toda aldeia e do pai, um dia ela se foi. No tempo que escoava, notícias e sussurros sobre a vida de batalhas que escolhera chegavam, notícias que foram escasseando com o tempo, até que nada mais retornou. A esperança se foi então, e ninguém mais esperou que algum dia retornasse, a não ser seu pai, que em noites rondava os caminhos perdidos nos vales, a alma chorosa por notícias da filha.
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Mas, então, houve a nomeação dela como conselheira de guerra, e a notícia de que ela a aceitara e não tardaria a chegar.
Adanu inspirou demoradamente, os olhos fechados, atento ao seu coração, que tranquilizava com sua respiração. Então abriu os olhos e, bem lentamente, passou por todos que, tal como ele, observavam a mata um pouco distante.
E o viu, e a visão o fez prestar mais atenção.
Lá estava novamente o aprendiz do seu amigo Tenebe, o pajé da tribo dos homens.
Com cuidado rapidamente examinou o rapaz chamado Uivo. Já o conhecia de longa data, mas confessava que nunca lhe dera muita atenção. Um jovem silencioso, misterioso, até. Ele era alto, o corpo ágil e esguio, parecendo ser muito forte. O rosto era anguloso e forte, emoldurado por uma cabeleira negra como a noite. E havia aqueles olhos totalmente negros que, apesar de parecerem sonhadores, também pareciam ser duros e avaliadores.
A forma como estava na árvore, o tronco fletido para frente, todo atenção, pareceu representar com exatidão aquele momento, porque tudo estava esticado, alongando-se para a mata, na espreita, na espera. E era por sua filha que eles esperavam, suspirou.
Sua filha, seu coração palpitou.
- Quanto tempo, quanta saudade – gemeu em silêncio.
Sem se aperceber voltou novamente os olhos para o rapaz, observando-o distraído. Ele deve ter sentido que era alvo de atenção, porque se virou também para observá-lo. Havia aquele sorriso confortador que o fez prestar mais atenção. Havia como que um afago ali, uma voz que lhe dizia: fique calmo. Ela está vindo, e tudo vai ficar bem.
Em paz sorriu de volta para o rapaz, vendo-o virar o rosto e fixar-se na trilha que saia da mata, por onde sua filha deveria vir.
Havia algumas estórias sobre esse rapaz, se lembrou. Estórias, talvez até um pouco exageradas, da sua valentia e bravura, que diziam que ele podia se transformar em um grande e violento animal, parecido com uma onça parda, mas apenas como uma vaga semelhança. Contavam que ele era extremamente ágil e inteligente, controlado em uma batalha.
- Acho que devemos esperar grandes coisas de você, meu rapaz – pensou, se virando para prestar atenção novamente na mata.
Adanu balançou de leve a cabeça, espantando para longe o que o distraia do momento tão esperado.
- Lá, ela chegou... – sussurrou alguém, o que foi ouvido por todos, tal o silêncio que a tudo cobria.
O lume tingiu de vermelho suave os galhos e folhas, quase na borda da clareira. Ele continuava a avançar, lentamente, como se quem iluminava as vidas suspensas avançasse pensativa e receosa. Então o lume parou a alguns passos de se mostrar, como se estivesse indeciso.
Adanu sentiu uma ameaça de desespero tocar seu coração. Tinha vontade de correr e gritar que não desistisse, que não o abandonasse novamente. Seus olhos ficaram sem piscar, desmesuradamente abertos, pouco se importando com as caras de pesares que o encaravam. Seu coração queria crescer, tocar sua filha, lhe dizer que estava tudo bem, que ele cuidaria dela com todo seu coração.
A dor o espremia, e tentou não prestar atenção no pulsar do sangue que latejava doloroso em seus ouvidos.
Mas então, para seu alívio, o lume começou novamente a avançar, novamente decidido, no compasso do seu coração, como se fosse ele que desse a cadencia do passo que a trazia, cada vez mais para perto, cada vez mais para si.
Sua filha se aproximava, sorriu Adanu, a alma se aquecendo e se incendiando.
Com a alma inchada e quieta fixou-se no lume que avançava, até que iluminou as copas na boca da floresta.
O silêncio parecia ter sucumbido o mundo.
Então, subitamente ela surgiu, envolta num brilho que se intensificou assim que viu a assembleia e seu pai, que também brilhava suave e intensamente assim que a vira surgir.
Ela parou, silenciosa, brilhando em fogo brando na borda da mata. Havia uma altivez tranquila de uma guerreira experimentada em muitas batalhas, uma altivez daqueles que não buscam glória ou fama, mas apenas cumprir o próprio destino.
Adanu a observou tomado de amor, pequenina ao longe, tendo ao lado o imenso queixada. Seu coração pulsou e abriu seu enorme sorriso.
Ela era alta, beirando 1,90 metros, as pernas longas, o corpo sem um grama de gordura, os cabelos bastos e longos de grandes ondas cor de palha de milho seco chegando até a cintura, o rosto com sardinhas, o nariz empinado, os lábios carnudos, a cintura fina. Mesmo daquela distância, pela emoção que a tomava, era fácil ver que suas tatus estavam em brasa. Herdada da manira-ellos ela tinha suaves linhas tatuadas que desciam do lado do sobrolho esquerdo, brincavam na face e seguiam pelo pescoço, onde se enrodilhava, para tomar a nuca e atingir o ombro direito, de onde desciam para a cintura e para a perna, terminando no tornozelo. As tatuagens eram muito sutis, quase da cor da pele, mas que se denunciavam completamente quando ela se incandescia, por se tornarem mais ígneas. Ela vestia uma tanga de abas largas feita de couro de anta e um sutiã a modos das manira-ellos, também do mesmo couro. Ao seu lado vinha um poderoso queixada de olhar predador que, pelas estórias que haviam ouvido, era o sisudo ArrancaToco.
Em sua mão pendia um grande arco e, às costas, dava para ver uma aljava repleta de longas flechas, muitas delas envenenadas, segundo contavam.
Suspiros se espalharam, maravilhados.
Adanu sentiu o peito quase explodir. Lá estava sua filha, pequenina ao longe.
Com um fraco sorriso de reconhecimento ela avançou com enorme graça pela campina. Devagar, saboreando seu retorno, passou tranquila no meio deles, sem se importar com o que causava. Seus olhos estavam presos em Adanu enquanto se adiantava.
A brisa criou vida novamente, enrodilhando folhas caídas, movendo com gentileza galhos que moviam troncos, numa dança hipnótica.
Allenda parou, os olhos presos nos olhos de fogo do pai, na trilha em brasa que, suave, descia de seus olhos. Um sorriso intenso se desenhou em seu rosto, seu brilho sem controle aumentado, a tatuagem enrodilhada se denunciando como uma brasa suave embalada pela brisa.
- Eu voltei, pai – falou baixando a cabeça enquanto se ajoelhava em frente ao velho curupira.
Havia um silêncio imenso e respeitoso enquanto todos observavam os dois.
Allenda levantou os olhos.
> Que bom te ver novamente, pai.
- Ah, filha – suspirou. - Que bom te ver novamente, Allenda. Estou feliz agora – declarou com imenso carinho.
- Eu também, eu também... Ainda mais sabendo que iremos juntos à guerra – falou se levantando em toda sua altura, o brilho esmaecendo lentamente.
- Essa é a parte que me entristece – sorriu Adanu, controlando o brilho.
- Sei disso, mas vai superar. Fui feita para a guerra – sorriu feliz.
Adanu sorriu de volta, vendo a filha tomar lugar entre os conselheiros que, gentilmente a cumprimentavam, felizes e satisfeitos.
Adanu suspirou profundamente, satisfeito. Então pigarreou e se empertigou.
- Minha filha está aqui – sussurrou para sua alma.
[1] Sobre as diferentes espécies e tipos de seres e pessoas, vide ANEXOS, ao final deste livro.
[2] Aqui é feita uma referência à guerra DOSVIVOS. Para ver um resumo das principais guerras que grassaram nesse mundo, vide ANEXOS, ao final deste livro.
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